domingo, 6 de dezembro de 2009

Exercício experimental de liberdade


Inconformismo estético, inconformismo social, Hélio Oiticica

O imaginário da revolução mobiliza o sentido político da vanguarda nos anos 60. Programas, manifestos, declarações, intervenções e obras compõem uma atividade extensa, que manifesta, na experimentação, o desejo de transformação social. A produção artística responde ao que se apresentava naquele momento, particularmente no período 1965-68, como necessidade: articular a produção cultural em termos de inconformismo e desmistificação; vincular a experimentação de linguagem às possibilidades de uma arte participante; reagir à repressão. Experimentação e participação agenciam uma outra ordem do simbólico (o comportamento), visando a instaurar a “vontade de um novo mito”; uma imagem da arte como atividade em que não se distinguem os modos de efetivar programas estéticos e exigências ético-políticas.
O imaginário de Oiticica é aquele que se interessa, não pelos simbolismos da arte, mas pela função simbólica das atividades, cuja densidade teórica está na suplantação da pura imaginação pessoal em favor de um “imaginativo” coletivo. Isto se cumpre quando as atividades possuem visão crítica na identificação de práticas culturais com poder de transgressão; não pela simples figuração das indeterminações e conflitos sociais, ou, ainda, pela denúncia da “alienação” dos discursos (totalizadores) sobre a “realidade brasileira”. A participação coletiva (planejada ou casual) provém da abertura das proposições; evita as circunscrições habituais da “arte” e o puro exercício espontaneísta de uma suposta criatividade generalizada. O essencial das manifestações antiartísticas é a confrontação dos participantes com situações; concentrando o interesse nos comportamentos, na ampliação da consciência, na liberação da fantasia, na renovação da sensibilidade, desterritorializam os participantes, proscrevem as obras de arte, coletivizam ações.
Toda a experimentação de Oiticica compõe um programa coerente que problematiza a situação brasileira e internacional da criação e se desenvolve como versão da produção contemporânea que explora a provisoriedade do estético e ressignifica a criação coletiva, a marginalidade do artista, o político da arte. A tendência básica do programa é a transformação da arte em outra coisa; em “exercícios para um comportamento”, operados pela participação. Ora, a virtude própria dos comportamentos é a de se manifestarem sem ambigüidades, como potências de um puro viver; apontam para um além-participação, em que a invenção enfatiza os processos, explorando o movimento da vida como manifestação criadora. Prática revolucionária, a transmutação da arte em comportamento se dá quando o cotidiano é fecundado pela imaginação e é investido pelas forças do êxtase. Desrealizados, os comportamentos libertam as possibilidades reprimidas; afrouxam a individualidade, confundem as expectativas: manifestam poder de transgressão. Esse modo de atuação rompeu com as propostas de resistência em desenvolvimento no país, apontando para práticas alternativas. Desacreditando dos projetos de longo alcance, de concepções históricas feitas de regularidades, essa atitude desligou o finalismo, afirmando o poder de transgressão do intransitivo.

Celso Favaretto



Parte do depoimento da artista plástica Regina Vater, amiga de Hélio (Após o incêndio de 17 de outubro)

Primeiro, quero ressaltar que Hélio, durante todo este tempo de nossa bela amizade, continuou produzindo sua obra com extremo cuidado, carinho e precisão. Era um amante da precisão, a ponto de que, por exemplo, se ele estivesse batendo à máquina (lembre-se que naquela época não existiam computadores, e nem me lembro se Hélio tinha máquina elétrica, me parece que não, já que seu dinheiro era ultra-incerto) e cometesse um erro, ele jamais usava a tinta branca de correção, mas tirava imediatamente o papel da máquina e começava a bater tudo de novo. Juro que o vi fazer isso várias vezes.
Hélio vivia numa extrema frugalidade. SEMPRE viveu assim e foi até mais frugal depois que voltou para o Brasil. E foi dentro desta pobreza franciscana (Hélio morreu dormindo num colchão, no chão, naquele apartamento que a Sônia, ex-mulher do Jorge Salomão, emprestou para ele). Foi dentro desta grande precariedade que ele continuou criando a sua obra. Tecida das veias da adversidade.Por exemplo, Hélio nunca pegava táxi. Não tinha dinheiro para isto. Mas nem por causa disso eu o vi se queixando. Não se queixava jamais. Achava até gostoso andar de ônibus. Dizia que quando eles disparavam, no Aterro, ele curtia um ‘barato’.Lógico que de vez em quando pintava 'grana', mas não da arte, desta nunca!, já que ele era 'marginal ao mercado.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O PRIMEIRO DIA - XIX Festival de Esquetes Elbe de Holanda

"É preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. Os homens começam com medo, coitados. E terminam em fazer o que não presta quase sem querer. É medo. [...] Medo de muitas coisas. Do sofrimento. Da solidão. E, no fundo de tudo, medo da morte." [O AUTO DA COMPADECIDA – ARIANO SUASSUNA]





Notícia das melhores: mal saiu da Mola e a Engrenagem já tem agendada uma nova apresentação!


Isso mesmo! Fomos selecionados para o IX Festival de Esquetes Elbe de Holanda (veja mais informações no link), o mesmo que há exato um ano atrás foi responsável pela estreia da companhia e onde fomos indicados ao Prêmio Revelação, por Tudo Aquilo que Eu Esperava.


Iremos abrir o festival, dia 07/11, às 20hs, com o esquete O Primeiro Dia, do qual já falamos aqui há um tempo atrás.


Dentro do processo de pesquisa e criação da Companhia Engrenagem de Arte Revolucionária, em determinado momento, nos deparamos com o álbum Transversal do Tempo Ao Vivo, da cantora Elis Regina. Lançado em 1978, a temática do espetáculo permanece atual. As músicas falam de desencontros, injustiças, (des)amores, degradação ambiental, política, solidão, medo, entre outras coisas. Elis Regina definia o show como jornalístico. Nós percebemos que havia um material especialíssimo. Naquele show e naquelas músicas encontravam-se os temas que queríamos, há muito, abordar.

Mas como a Cia. colocaria isso na prática?

Optamos por trabalhar a intertextualidade das canções. As entrelinhas. O sentimento macro embutido na letra. É importante ressaltar que as músicas em momento algum serão executadas durante a cena. Elas apenas serviram de base para a construção de um personagem.

Foi realizada uma pesquisa literária e cinematográfica. A Cia. Engrenagem foi atrás de obras da literatura mundial e do cinema nacional, cujo texto e discurso, entrassem em concomitância com as músicas do disco de Elis Regina. Entramos em contato com as obras de Lucia Murat, Bertold Brecht, Eduardo Galeano, Maria Adelaide Amaral, e, entre outros, Mia Couto, Walter Salles e Daniela Thomas.


Um dos sentimentos e temas que a Cia. quis trazer à tona é o medo. Nos dias de hoje, as pessoas têm medo de tudo. Estão reféns de várias coisas. Violência, opressão. Claustrofobia. A falta de folhas, de escolhas, de ar. E o filme O Primeiro Dia, de Walter Salles e Daniela Thomas, aborda esse tema.

O primeiro passo foi a adaptação. O roteiro do esquete passou por diversos tratamentos, onde cada personagem foi construído através ou da intertextualidade de uma música, ou através de referências literárias – no caso específico desse esquete, o autor moçambicano Mia Couto.

Ainda no campo da pesquisa, ao nos decidirmos por O Primeiro Dia, a cena já se delineava: uma cidade em meio ao fim do milênio. Inseridos nela, três personagens distintos, mas com destinos cortados pelo mesmo sentimento: medo. Investimos, então, na busca desses personagens. Quem são? Qual sua relação com a vida? Com o lugar? Com os outros? Qual o grito preso na garganta de cada um? Nos deparamos, então, com a seguinte frase da cineasta Lucrécia Martel:
"acho que a gente não precisa saber tudo do personagem. de onde vem, pra onde vai. podemos trabalhar com mistérios. eu vivo há cinco anos com uma pessoa e não sei tudo dela. e nem vou saber. é bom preservar os mistérios".

E é nesse mistério que se baseia a encenação de O primeiro dia. A encenação é feita através do jogo com espelhos, criando um clima de tensão e, ao mesmo tempo, libertação dos personagens. Uma flor é a metáfora de uma arma de fogo e a morte se dá ao recebê-la e se desvencilhar de uma peça de figurino, que cai, ao lado do personagem, que se liberta. Os atores são vestidos de acordo com os humores e opressões daqueles que representam com intensidade: João, Chico e Maria.

Um trabalho intenso, visceral.


Esperamos vocês nesse primeiro dia!

BALANÇO DA MOLA - 2009

Circo Voador lotado, inúmeras manifestações artísticas, arte por todos os cantos! Quatro dias muito intensos.

No sábado, o público lotou a tenda verde onde foi a apresentação e a Engrenagem novamente fez bonito!

Foi emocionante ver a plateia interagindo com a cena. Pessoas que paravam à porta da tenda para dar uma espiada e logo eram pegas por Plínio e Nelson em cena, fazendo-os ficar ali, procurar um cantinho em meio às almofadas e colchonetes, ou até ficando em pé mesmo, mas com largos sorrisos nos rostos e palmas entusiasmadas ao final.

Valeu Juliana Sansana e Curadoria de Cênicas da MOLA!
Valeu, Mola!
Valeu, Circo Voador!
Valeu, galera!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

CON$UMADO - 3º Ato - Tudo Aquilo que Eu Esperava

A MOLA - Mostra Livre de Artes começa amanhã!

Neste quinto ano, quatro dias seguidos de evento, de 28 a 31 de outubro, os portões do Circo Voador estarão abertos a partir das 20:00hs. A entrada será GRATUITA até as 21:30hs! Após esse horário, o ingresso custará R$ 20,00, mas com meia entrada para estudantes, ou doando um livro, ou um gibi. Não dá pra perder, né?

Além do palco, o espaço do Circo, foi dividido em 3: Picadeiro (pista em frente ao palco); Quintal (área externa entre as palmeiras) e Tenda Cênica (uma tenda de cor branca q será iluminada cada dia por uma cor). Espalhados e divididos por esses espaços performances, poesia, artes plásticas, cinema, arte circense, música e teatro.

A Cia Engrenagem de Arte Revolucionária, apresenta no último dia, 31/10, na Tenda Cênica, o

Con$umado - 3º Ato - Tudo Aquilo que eu Esperava

Sim, como vocês já devem ter visto aqui no blog, ele faz parte do Con$umado, fruto da pesquisa da Companhia sobre o Consumismo. Devido a adaptação para o espaço e evento, visto que serão diversas atrações numa só noite, é que apresentaremos o que denominamos de 3º Ato.

Não deixem de comparecer, nos prestigiar e prestigiar esse mix de arte livre!!!

A programação completa da MOLA está no site do Circo Voador:


Nos vemos lá!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ENGRENAGEM na MOLA-Mostra Livre de Artes 2009 / CIRCO VOADOR!

A Engrenagem foi selecionada para a quinta edição da MOLA-Mostra Livre de Artes, que acontece anualmente no Circo Voador!

Nossa apresentação será dia 31/10/09, em horário ainda a ser definido pela produção. Todos podem confirmar a programação, bem como tudo que rola nesse super evento no site do Circo Voador (é só clicar no link!).


Confiram e compareçam! Esperamos vocês lá!


"A MoLA - Mostra Livre de Artes - chega ao seu 5º ano se afirmando como o quintal das ideias. Então se a MoLA fosse uma conta matemática, não tenha dúvidas de que seria a soma. Porque é a união de jovens produtores, mais artistas que querem dizer ou cantar ou pintar ou encenar ou reproduzir alguma coisa, mais um público interessado que só cresce a cada edição, que torna a MoLA um verdadeiro quintal de todas as idéias! Neste quinto ano, teremos quatro dias seguidos de evento, de 28 a 31 de outubro, com entrada franca até determinado horário, e atrações na área da música, cinema, teatro e artes plásticas. E uma ou outra coisa que a gente ainda não sabe classificar. Como serão estas apresentações, nós vamos descobrir juntos. A única certeza que temos é que, se chegamos até aqui, não fizemos isso sozinhos!"






quinta-feira, 8 de outubro de 2009

para nos seguir...




segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Adiós, La Negra!

Aos 74 anos, morre a cantora Mercedes Sosa

A cantora argentina Mercedes Sosa morreu neste domingo, no hospital Trinidad, em Buenos Aires, onde estava internada desde meados de setembro. Os motivos divulgados de sua morte foram complicações renais e hepáticas, além de problemas respiratórios. A intérprete de 74 anos sofria do Mal de Chagas desde o final dos anos 1970. As vozes mais à esquerda poderiam resumir o parágrafo acima a quase um slogan: "a voz dos sem voz se calou". O coro postado mais à direita provavelmente se sentiria aliviado: durante a ditadura militar que governou a Argentina entre 1976 e 1983, Mercedes era o grilo falante e cantante que insistia em evocar a consciência de que a intolerância e a perseguição política não se afina com a dignidade humana. Deixando de lado as paixões políticas, seria justo dizer que morreu uma das principais cantoras latino-americanas, a voz maior de clássicos como Volver a los 17, uma artista que ignorou fronteiras artísticas e geográficas, celebrando um ideal latino ao dividir canções, álbuns e palcos com Milton Nascimento, Charly García, Fagner, Antonio Tarragó Ros, Beth Carvalho, Joan Manuel Serrat, Shakira e Fito Páez. Para aquela que imortalizou Gracias a la Vida (da chilena Violeta Parra), a boa música exigia independência artística. Por exemplo, no show que La Negra (apelido recebido pela cor de sua vasta cabeleira) fez há dois anos nem Porto Alegre, o repertório incluía Coração de Estudante (Nascimento e Wagner Tiso), mas também Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque) e Un Vestido y un Amor (Páez) e El Cosechero, que ela interpretou ao lado de seu amigo Luiz Carlos Borges, acordeonista gaúcho. Na entrevista que concedeu a Zero Hora em 2007, Mercedes mostrou que sua o fato de colocar sua voz forte incondicionalmente a serviço de quem é fraco não a fazia perder sua lucidez. Comentando avanços sociais e políticos na América Latina, ela cravou: — Não é a esquerda que está no poder, são alguns políticos de esquerda que estão no poder. Depois do desmembramento da União Soviética, o capitalismo está sozinho. Essa lucidez sempre custou caro a Mercedes. Ela teve de exilar-se em Madri entre 1979 e 1982, depois de receber ameaças de morte de grupos extremistas de direita. Sua partida, inclusive, foi precipitada por um show que fez em La Plata, quando ela e todo o público que a tinha ido assistir foram detidos. Porto Alegre também foi testemunha de um episódio de provocação terrorista contra ela. Em 1980, durante um show no Gigantinho, alguém detonou uma bomba de efeito moral para provocar correria e choro entre a plateia e inviabilizar o concerto da argentina. Até que Mercedes assumiu o comando com sua voz, e acalmou o público, que se juntou a ela em um coro emocionado. Anos mais tarde, Mercedes recebeu uma homenagem mais formal de parte dos gaúchos: em 1996, ela foi agraciada com a Medalha Simões Lopes Neto, outorgada pelo governo do Rio Grande do Sul. Um dos últimos reconhecimentos que Mercedes recebeu foram três indicações para o Grammy Latino 2009 pelo álbum Cantora 1, que reúne duetos dela com vários artistas. O anúncio do vencedor será realizado no dia 5 de novembro em Las Vegas, mas o resultado da vida de Mercedes já é conhecido desde há muito tempo: La Negra iluminou com sua voz alguns dos tempos mais escuros que a América Latina já experimentou.

Nos últimos tempos, cansada e doente, assegurava estar feliz, rodeada de afeto. "Tenho sorte", dizia, "porém me custou muito". A Negra Sosa lutou até o final para cumprir os objetivos do Manifesto do Novo Cancioneiro que firmou em Mendonza, em 1964, quando tinha apenas 28 anos, no qual se propunha renovar a canção popular argentina para conseguir que "se integrasse na vida do povo, expressando seus sonhos, suas alegrias, suas lutas e suas esperanças".
[Fonte: Renato Mendonça-Zero Hora/RS]

domingo, 27 de setembro de 2009

UM ANO!

Parece que foi ontem que estávamos ali, sentados naquela mesa do bar Antigamente, traçando metas e criando planos...
Acreditamos. Acreditamos pra valer. Nos demos as mãos e decidimos caminhar juntos.

Muitos filmes e documentários depois, leituras de textos, peças, discussões, saraus, músicas, poemas, construções, busca por salas de ensaio, ocupações de espaços públicos para ensaiar, experimentações, longos e-mails, longas conversas, ensaios em tão-tão distante, risadas, abraços apertados, sorrisos, descobertas, mãos dadas... percebemos o quanto ainda temos a fazer juntos, o quanto queremos fazer juntos, o quanto somos necessários um ao outro, o quanto essa engrenagem necessita de cada uma das suas peças para funcionar!

Foi um ano de conhecimento, de experimentações, de descobertas, mas, acima de tudo, de parceria. De olhar o outro e através do outro para, juntos, seguirmos em frente e construírmos (no plural). Um ano de transformações. De saber, principalmente, o quanto a arte nos é necessária e do quanto queremos dizer com ela. Do quanto podemos e devemos transformar.

Acima de tudo, queremos.

Salve, Engrenagem e todas as suas peças.

E todos aqueles que, direta ou indiretamente nos apóiam, ouvem, acompanham, seguem, acreditam.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

PROTESTO E APOIO

Nós da Cia Engrenagem de Arte Revolucionária apoiamos o protesto da Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), visando manter a preservação do seu projeto pedagógico original, que será foco do ato público em que os artistas entregarão uma carta ao Secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, sr. Edson Salvo Melo. Nesta carta, também irão solicitar que se reveja a demissão de Edgar Castro - escolhido democraticamente pela comunidade escolar e com ampla aderênciade todos - e que se possa dialogar sobre a presença da Sra. Eliana Gonçalves.

A concentração para o ato será às 14h em frente à ELT: Praça Rui Barbosa s/ nº, bairro Santa Terezinha, Santo André. Segue em passeata até o Paço Municipal de Santo André.

A Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), projeto artístico-pedagógico que se firmou como referência para a formação de atores no Brasil e que se aproxima agora dos seus 20 anos de enraizamento na cidade, acaba de ter seu coordenador, o ator Edgar Castro, sumariamente demitido.

Nesta sexta-feira, onze de setembro, artistas representantes dos principaiscoletivos de artes cênicas das cidades de Santo André e São Paulo - entre os confirmados as atrizes Maria Alice Vergueiro e Leona Cavalli, o ator Antônio Petrim, os diretores Francisco Medeiros e Cibele Forjaz - farão um ato público em prol da manutenção do projeto artístico-pedagógico original, que se encontra ameaçado.
Internacionalmente conhecida por seu projeto inovador desde sua fundação, em 1990, a ELT foi idealizada pela artista-pedagoga Maria Thaís Lima Santos,(hoje professora doutora da USP e coordenadora do TUSP), e coerentemente transformada pela experiência e pelos diversos mestres que passaram por ela tais como: Luis Alberto de Abreu Antonio Araújo, Tiche Vianna, Francisco Medeiros, Cacá Carvalho, Renata Zhaneta, Cibele Forjaz, Cláudia Schapira, Denise Weinberg, Sergio de Carvalho.

Da palavra "Livre" - presente no nome da Escola - emerge um campo pedagógico próprio, que pressupõe o conceito de deliberação coletiva, derivado do contínuo diálogo entre mestres, aprendizes e funcionários (constituintes legítimos da comunidade ELT), num processo de não-hierarquização, radicalmente contrário a imposições.

Desde o final do ano passado, após a eleição do atual prefeito Dr. Aidan Ravin, a comunidade da Escola Livre de Teatro tem se reunido para conhecer o projeto cultural para a cidade de Santo André. Em 28 de novembro, organizou um ato público, o Encontro Cultural da Cidade, quando se esperava como convidado principal Dr. Aidan Ravin. O então futuro prefeito não compareceu, mas fez-se presente através de seus assessores e do vereador recém eleito Gilberto do Primavera, que firmou publicamente seu compromisso com a cultura da cidade e com a manutenção do projeto original da ELT.

No entanto, como primeira medida, designaram para escola uma nova coordenadora não pertencente ao quadro de mestres e desconhecedora do projeto em curso. Em assembléia geral da escola, em 3 de fevereiro de 2009, com a presença de toda comunidade ELT e da coordenadora, o atual Secretário de Cultura, sr. Edson Salvo Melo, não só reiterou a continuidade do projeto artístico-pedagógico como também acenou a reforma física do prédio da ELT, readequando o espaço para as atuais necessidades da escola.

Passados oito meses da nova gestão, de contínuas tentativas de diálogo entre a comunidade, a coordenadora sra. Eliana Gonçalves e os funcionários também recém transferidos para a escola, encontros mediados pelo coordenador Edgar Castro (mestre da escola há 11 anos), foram surpreendidos por esta repentina demissão feita pelo diretor de cultura Sr. Pedro Botaro no dia oito de setembro.

A comunidade da Escola Livre de Teatro, torna público o último fato que ameaça o projeto político pedagógico original da escola reconhecida e respeitada nacional e internacionamente, podendo inclusive comprometer definitivamente a continuidade da instituição que vem sendo construída ao longo de 19 anos.



terça-feira, 1 de setembro de 2009

COMUNICADO

A tão esperada estreia do dia 05/09 foi adiada por motivos alheios a nossa vontade...

Atenção, foi apenas ADIADA!!!

Continuamos no mesmo embalo preparatório, aguardando ansiosamente a hora de colocarmos nosso grito pra fora.

Quando ela chegar, gritaremos aqui primeiro, avisando a todos a nova data!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

CONTAGEM REGRESSIVA!!!!!!!

Leituras, ensaios, discussões, ensaios, produção, discussões, a busca por salas de ensaio, mais ensaios, ocupações de espaços públicos para ensaiar, a busca por iluminação, mais ensaios, mais discussões, experimentações, longos e-mails, longas conversas, ensaios em tão-tão distante, mais discussões, risadas, abraços apertados, 11 horas seguidas de ensaio, sorrisos, descobertas, mãos dadas, vamos juntos, é isso aí, vamos juntos!

A hora vem chegando. Vem se aproximando em passos largos, em passos apressados. Ora descompassados, ora no compasso do dito tempo que nos enforca, mas que também abraça. Só nos cabe esperar a chegada, a batida de Molière dos três sinais, a entrada em cena. Tudo é feito de espera. Feito um Pedro pedreiro buarqueano, "esperando o sol, esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem, esperando um filho pra esperar também, esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o norte, esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim nada mais além que a esperança aflita, bendita e infinita do apito do trem."

CON$UMADO estreia dia 05/09/09
às 21:00hs
No Teatro Odisséia
Rua Mém de Sá, nº 66 - Lapa - Rio de Janeiro/RJ

Projeto ODISSÉIA EM CENA



domingo, 5 de julho de 2009

Vem aí... CON$UMADO

"Consumo: Ato ou efeito de consumir, consumação, gasto, dispêndio. Venda de mercadorias. Função da vida econômica que consiste na utilização direta das riquezas produzidas.
Consumado:
Que se consumou, acabado, terminado, realizado, Irremediável: Fato consumado.
Consumido:
Utilizado para satisfação de necessidades ou desejos. Desgastado, corroído, destruído.
Já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias e os bens simbólicos que nos revestem e cercam determinam um valor social. Desprovidos deles, estamos condenados ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão. Quanto vale um paraíso descartável???
A felicidade comprada é efêmera! Até que se compre o próximo lote."

Estamos há um longo tempo sem postar, devido a um convite que recebemos (diga-se de passagem com muita surpresa e de muito bom grado!) para subirmos aos palcos da cidade. A princípio, não era ideia da Engrenagem estreiar, pois ainda estamos em processo de pesquisas, investigações e experimentações de linguagens. Mas já com um trabalho em andamento, surgido principalmente das nossas pesquisas da Ditadura do Consumo, eis que surge nossa primeira temporada, com CON$UMADO.

Como exposto aqui no blog, em nossas pesquisas deparamo-nos com Bertold Brecht, que utilizava a arte (concebida como resultado de um processo de criação coletiva) como uma arma de conscientização e politização. Isso nos fez pensar em nosso papel enquanto artista, nossa capacidade e postura criativa e artística perante as engrenagens do mundo das artes e até que ponto podemos (ou não) nos tornarmos mercadoria dentro do esquema capitalista da sociedade. Parte do resultado dessa pesquisa é o que iremos apresentar.

Trata-se de uma trilogia acerca do Capital, formada por três esquetes:

  • Cidadão Consumo

  • Quinze Minutos

  • Tudo Aquilo Que Eu Esperava
Em Cidadão Consumo, temos o Homem às voltas com seu cartão de crédito, uma espécie de melhor amigo moderno ou semi-deus, criando a falsa ilusão de que tem o poder está em suas mãos. É possível refletir sobre quanto o capital leva aquele personagem ao escapismo, a fuga da realidade, a uma outra percepção dessa: uma realidade distorcida. Ele é vítima da Ditadura do Consumo, mas também uma cria da sociedade Capitalista.

Ambientado num Call Center, Quinze Minutos traz à cena os atrapalhados operadores de telemarketing Anderson e Mônica. Nesse esquete, está de volta o cartão de crédito, mas dessa vez não na mão de um homem, mas figurando como a empresa Mastercruzes, afiliada da Credocard. Vítimas de um sistema opressor de trabalho, onde a exploração do trabalho em prol do lucro do capital é clara, eles só querem pleitear melhores condições de trabalho: alguns minutos a mais em seus míseros quinze minutos de almoço!

O questionamento que envolve o ser humano acerca de sua vida é o foco principal do esquete Tudo aquilo que eu esperava. A ação se passa em um lugar inusitado: o “limbo”. E é neste lugar insólito e desconhecido que dois também desconhecidos se encontram. Nelson, um playboy moderno e milionário, cuja causa mortis foi a descoberta de ter uma vida sem miséria com tantos miseráveis ao seu redor e que o mundo é uma grande bolota de injustiça e hipocrisia. Plínio, por sua vez, é um cara honesto, trabalhador, de vida dura, que está passando por um dos piores dias de sua vida, tanto pessoal quanto profissional, e que acredita que a riqueza material poderia fazê-lo mais feliz. O encontro dos dois se dá quando Nelson pula da janela do oitavo andar de seu prédio e cai justamente em cima de Plínio.

Aguardem as novidades, em BREVE!!!!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

POR UMA ARTE REVOLUCIONÁRIA INDEPENDENTE

Leon Trotski e André Breton, tiveram em 1938, na Cidade do México, um encontro histórico de que resultou, após muitos debates entre eles e outros agentes culturais, este documento, cuja versão final foi elaborada por Breton e Diego Rivera, com a aquiescência de Trotski. Naquele momento nascia a F.I.A.R.I. – Federação Internacional da Arte Revolucionária e Independente – de vida efêmera mas importância histórica crucial.

[Compliação]



A arte verdadeira, a que não se contenta com variações sobre modelos prontos, mas se esforça por dar uma expressão às necessidades interiores do homem e da humanidade de hoje, tem que ser revolucionária, tem que aspirar a uma reconstrução completa e radical da sociedade, mesmo que fosse apenas para libertar a criação intelectual das cadeias que a bloqueiam e permitir a toda a humanidade elevar-se a alturas que só os gênios isolados atingiram no passado. Ao mesmo tempo, reconhecemos que só a revolução social pode abrir a via para uma nova cultura.

A oposição artística é hoje uma das forças que podem com eficácia contribuir para o descrédito e ruína dos regimes que destroem, ao mesmo tempo, o direito da classe explorada de aspirar a um mundo melhor e todo sentimento da grandeza e mesmo da dignidade humana.

A idéia que o jovem Marx tinha do papel do escritor exige, em nossos dias, uma retomada vigorosa. É claro que essa idéia deve abranger também, no plano artístico e científico, as diversas categorias de produtores e pesquisadores. "O escritor, diz ele, deve naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas não deve em nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro... O escritor não considera de forma alguma seus trabalhos como um meio. Eles são objetivos em si, são tão pouco um meio para si mesmo e para os outros que sacrifica, se necessário, sua própria existência à existência de seus trabalhos... A primeira condição da liberdade de imprensa consiste em não ser um ofício. Mais que nunca é oportuno agora brandir essa declaração contra aqueles que pretendem sujeitar a atividade intelectual a fins exteriores a si mesma e, desprezando todas as determinações históricas que lhe são próprias, dirigir, em função de pretensas razões de Estado, os temas da arte. A livre escolha desses temas e a não-restrição absoluta no que se refere ao campo de sua exploração constituem para o artista um bem que ele tem o direito de reivindicar como inalienável. Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a qualquer coação, não se deixe sob nenhum pretexto impor qualquer figurino. Àqueles que nos pressionarem, hoje ou amanhã, para consentir que a arte seja submetida a uma disciplina que consideramos radicalmente incompatível com seus meios, opomos uma recusa inapelável e nossa vontade deliberada de nos apegarmos à fórmula: toda licença em arte.

Ao defender a liberdade de criação, não pretendemos absolutamente justificar o indiferentismo político e longe está de nosso pensamento querer ressuscitar uma arte dita “pura” que de ordinário serve aos objetivos mais do que impuros da reação. Não, nós temos um conceito muito elevado da função da arte para negar sua influência sobre o destino da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte em nossa época é participar consciente e ativamente da preparação da revolução. No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior.

O que queremos:
a independência da arte - para a revolução
a revolução - para a liberação definitiva da arte.

Cidade do México, 25 de julho de 1938

sexta-feira, 17 de abril de 2009

JOGO CÊNICO


...os dois se abraçam...
"Sabe o que eu quero fazer?
Quero me batizar nesse mar aí.
Extravagar-me pelo avesso da corrente até o país dos sonhos.
O lugar além de todos os lugares..."


Além de dar continuidade ao estudo sobre Brecht e à pesquisa sobre as Ditaduras, iniciamos também nosso processo de criação textual.

O ponto de partida para o este processo foi o show Transversal do Tempo, da cantora Elis Regina, sobre o qual já falamos aqui e que faz parte da nossa pesquisa [ver em 15/12/08: http://ciaengrenagem.blogspot.com/2008/12/transversal-do-tempo.html]. Lançado em 1978, a temática do espetáculo permanece atual. As músicas falam de desencontros, injustiças, (des)amores, degradação ambiental, política, entre outras coisas. Elis Regina definia o show como jornalístico. E o propósito foi alcançado.
A partir de algumas músicas do show, selecionamos alguns textos oriundos da literatura mundial e do cinema nacional, nos quais vislumbramos os personagens que dariam corpo e voz àquelas canções. Fizemos o sorteio dos personagens e realizamos uma primeira leitura, ainda fria, apenas para conhecermos o texto.

Os autores selecionados foram Mia Couto e Maria Adelaide Amaral , representando a literatura – Estórias abensonhadas, Cada homem é uma raça, Luísa (Quase um história de amor). O cinema foi representado por Walter Salles, Daniela Thomas e Lucia Murat, através de diálogos dos filmes O primeiro dia e Que bom te ver viva.

As músicas que fizeram link com os textos foram Fascinação, Romaria, Sinal fechado, Caxangá, Meio termo, Cão sem dono, Deus lhe pague, Maravilha e Nada será como antes.

Na semana seguinte, a Engrenagem se reencontrou. Já com os personagens estudados, fizemos uma nova leitura, mais intencional. Ideias surgiram. Divergências também, o que é natural. Trabalho em equipe é isso mesmo. Ainda mais entre pessoas que se amam e respeitam acima de tudo.

O processo é contínuo e está a todo vapor!


Músicas x Personagens


1 - Fascinação - Jordão Qualquer (Conto "No rio além da curva" - Mia Couto)
http://www.youtube.com/watch?v=cjNFHV2mxAg
2 - Romaria - João (Conto "A Princesa Russa" - Mia Couto)
http://www.youtube.com/watch?v=IpPmjX-VjJ8
3 - Caxangá e Sinal fechado - Pedro 1 e Pedro 2 ("Que bom te ver viva" - Lucia Murat)
http://www.youtube.com/watch?v=bx0LAt_RG5E
4 - Meio termo - Raul, Pedro 1 e Pedro 2 ("Luisa – Quase uma história de amor)" - Maria Adelaide Amaral)
http://www.youtube.com/watch?v=lDRy8I2p2jY
5 - Cão sem dono - Maria e Chico ("O Primeiro Dia" - Walter Salles e Daniela Thomas)
http://www.youtube.com/watch?v=EsJzOePtqcs
6 - Deus lhe pague - João e Chico ("O Primeiro Dia" - Walter Salles e Daniela Thomas)
http://www.youtube.com/watch?v=pODeQioMGRU
7 - Maravilha e Nada Será como antes - João e Maria ("O Primeiro Dia" - Walter Salles e Daniela Thomas)
http://www.youtube.com/watch?v=LsRqraVYKbY
http://www.youtube.com/watch?v=n3IP87jw0Ks

domingo, 29 de março de 2009

SARAU DO ENGRENAGEM

Nesse último final de semana, demos uma parada em nossos estudos e pesquisas sobre Bertold Brecht para fazermos nosso primeiro Sarau, um dia após a comemoração do Dia Mundial do Teatro.
Um sarau livre, onde cada um pôde mostrar um pouco do que faz, do que gosta, do que acredita.
Começamos com uma mini exposição de artes plasticas, com 10 réplicas expostas por todo o recinto de obras de Edigar Degas, Vincente Van Gogh, Henri Rousseau, Pablo Picasso, Gustav Klimt, Franz Marc, Juan Gris, Egon Schiele. As obras foram expostas cronologicamente e passamos por cada uma delas, analisando e conhecendo um pouco mais de cada artista e da obra em si. Depois, fizemos um pequeno exercício linkando às obras pequenos textos de autores como Chaplin, Tarkowski, Tenesse Williams, Gláuber Rocha, Goethe, Almodovar.
Em seguida, passamos por uma exposição de "fotos-flagrantes". Imagens do dia a dia feitas em diversos lugares. Imagens reais e nas quais continuamente esbarramos, mas muitas vezes sem percebê-las. A exposição pretendeu lançar um olhar incômodo sobre diversas situações e utilizou versos de Mayakovsky e Brecht para melhor ilustrá-las.
Foram diversos textos e poemas lidos, tanto dos própios membros da Engrenagem quanto de autores como Eduardo Galeano, Fernando Pessoa, Fernanda Young, Carlos Drummond de Andrade, Charles Chaplin, Zé da Luz.
Também não faltou música e violão, de Secos e Molhados, Renato Russo, Roberto e Erasmo a Xangai e Chico Buarque.
Finalizando, criamos na hora uma instalação plástica, utilizando recorte e colagem, chamada "A forma das coisas". Demos forma aos nossos nomes, bem como à palavras escolhidas naquela hora, que tivessem a ver com nossa proposta e com a Engrenagem em si (Poesia, Teatro, Revolução, Criação, Estrutura e Loucos).

Foi um experimento ótimo, inspirador e que, além de estar carregado de emoção em diversos momentos, também provocou reflexões, que é nosso combustível essencial.

Mas as imagens falam mais que as palavras, por isso fica o convite para a visita ao nosso álbum do Picasa, bem ali, do lado direito da página, onde elas poderão ser melhor visualizadas! É so clicar e entrar, a casa é sua!

sexta-feira, 27 de março de 2009

27 DE MARÇO: DIA MUNDIAL DO TEATRO

O Dia Mundial do Teatro, criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro, é celebrado todos o anos, a 27 de Março, pelos centros nacionais do Instituto Internacional do Teatro e pela comunidade teatral internacional. São organizadas numerosas manifestações teatrais nesta ocasião, sendo uma das mais importantes, a difusão de uma mensagem internacional, tradicionalmente redigida por uma personalidade do Teatro, de renome mundial, a convite do Instituto Internacional do Teatro.
O International Theatre Institute (ITI), uma organização não governamental, foi fundado em Praga no ano de 1948 pela UNESCO e pela comunidade internacional do teatro.

Mensagem Internacional por Augusto Boal


Todas as sociedades humanas são espetaculares no seu cotidiano, e produzem espetáculos em momentos especiais. São espetaculares como forma de organização social, e produzem espetáculos como este que vocês vieram ver.
Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!
Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da Bolsa - nós fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre; no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espetáculo, eu dizia aos meus atores: - "Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida".
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Assistam ao espetáculo que vai começar; depois, em suas casas com seus amigos, façam suas peças vocês mesmos e vejam o que jamais puderam ver: aquilo que salta aos olhos. Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida!
Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!

sexta-feira, 13 de março de 2009

BERTOLD BRECHT

Elogio da Dialética
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro.
Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".
[B.Brecht]


A Engrenagem segue na sua proposta de estudo e pesquisas e, no momento, estamos mergulhados no mundo brechtiniano.

Bertold Brecht, um dos nossos esenciais, é um dos escritores fundamentais por ter revolucionado teórica e praticamente a dramaturgia e o espetáculo teatral, alterando de forma irreversível a função e o sentido social do teatro, utilizando a arte, concebida como resultado de um processo de criação coletiva, como um arma de conscientização e politização.
O pensamento de Brecht nunca é dogmático. Qualquer juízo crítico sobre sua obra é sempre relativo. Ele reescreveu tudo até morrer, nunca considerando um trabalho como acabado, nada como definitivo.Seu pensamento foi sempre ágil, resultado de contradições e contraditório também, experimental, circunstancial e sempre profundamente dialético. Tem como fundamento de sua criação seu pensamento político.
Toda a obra de Brecht virá a ser a luta contra o capitalismo e contra o imperialismo. A reflexão sobre a situação do homem num mundo dividio em classes. Filho de um industrial, nascido para ocupar seu lugar na produção ao lado dos patrões, Brecth não fabricará papel mas, sim, palavras para preencher papéis. Palavras que serão armas contra sua própia classe, tendo optado pelo lado dos operários, tornando-se o mais expressivo poeta revolucionário deste século.
Para Eric Bentley, Brecht é a corporização do espírito de oposição, resistência e contradição, levado ao extremo da contrariedade, do pensamento combativo. Sua vida repousa na alegria da luta, no deleite da oposição. E isto o transforma no intelectual marxista da sociedade capitalista: existe dentro dela para dinamitá-la!
Muito ainda temos que mostrar e falar sobre Bertold Brecht e, principalmente, seu importante Teatro Épico. Aguardem as próximas postagens! Por agora, deixamos essa pequena introdução e, mais ainda, o instigante texto que segue abaixo, que nos faz pensar em nosso papel enquanto artista, nossa capacidade e postura criativa e artística perante as engrenagens do mundo das artes e até que ponto podemos [ou não] nos tornarmos mercadoria dentro do esquema capitalista da sociedade.

"Brecht desenvolve de forma mais ampla sua concepção de arte no mundo capitalista. Afirma que há muito tempo as grandes engrenagens do teatro, da ópera ou do jornalismo orientam e decidem tudo a respeito das criações artísticas. Os intelectuais e artistas são ingênuos que ainda mantêm a ilusão de que todo o comércio da engrenagem pretende a valorização de seus trabalhos, quando acontece o contrário: convencidos de possuir o que realmente os possui, defendem uma engrenagem que não controlam mais; um aparelho que não existe mais, como acreditam, a serviço dos criadores, mas que, pelo contrário, voltou-se contra eles e portanto contra sua própria criação (na medida em que isto apresenta tendências específicas e novas, não conformes ou mesmo opostas à engrenagem). O trabalho dos criadores não é mais que um trabalho de fornecedores e assite-se ao nascimento de uma noção de valor cujo fundamento é a capacidade da exploração comercial. Assim, reforma-se a obra de arte para adaptá-la à engrenagem, nunca o contrário. E, acentua Brecht, a engrenagem é determinada pela ordem social: portanto só é bom o que contribui para a manutenção da ordem estabelecida. Uma inovação que não ameace a função social da engrenagem da burguesia decadente (esta função é ser um divertimento vesperal) pode ser acolhida, pois a sociedade absorve, por meio da engrenagem, apenas o que necessita para sua perpetuação. Portanto, só é permitida uma "inovação" capaz de levar uma renovação. Nunca a uma transformação da sociedade - seja ela boa ou má. Mas Brecht não faz esta denúncia apenas para situar a localização do artista e do intelectual dentro do esquema social. Afirma mesmo que a liberdade de criação limitada é um fato progressista, o indivíduo encontra-se cada vez mais implicado nos acontecimentos que transformam o mundo, não pode apenas se exprimir, é solicitado a resolver problemas de ordem geral e é colocado em condições de fazê-lo. Mas o vício, afirma, reside no fato das engrenagens não pertenceram à comunidade: os meios de produção não são ainda a propriedade daqueles que produzem, de modo que o trabalho tem a característica de uma verdadeira mercadoria, submetida às leis do mercado."
[Fonte: PEIXOTO, Fernando: Brecht - vida e obra]


Ah! E não deixem de conferir no final da página a barra de vídeos selecionados sobre Brecht, seus poemas e obra!!!!!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

DE LUTA!

"É difícil reconhecer o rosto do inimigo, é difícil coligar os homens com interesses comuns; as lutas duram muito e os impulsos pouco." [Bertold Brecht]


A frase acima é do livro Introdução ao Teatro Dialético já citado na postagem anterior. Faz-nos refletir sobre a questão do ser revolucionário, da arte revolucionária, todos estes conceitos e seus contextos. Faz-nos pensar sobre compromisso x impulsividade. Compromisso com a luta e com a arte. Impulso de querer fazer parte dessa luta, mas não arregaçar as mangas e apenas "fazer parte" de algo, sem de fato "ser parte", de luta e de comprometimento com a causa. Lutar é imprescindível: a favor de uma arte de transformação, por um processo continuado de trabalho e pesquisa artística, da não mercantilização da arte que é imposta à cultura do país. Mas não podemos apenas nos deixar levar por meros impulsos e, com isso, deixarmos a luta de lado.

Finalmente na última reunião da Cia Engrenagem, colocamos em prática o que já havia sido proposto em reunião anterior e lemos alguns dos textos que farão parte do repertório da companhia. São textos dotados de humor, sem deixar a crítica social de lado. Os três primeiros textos escolhidos foram:

  • Quinze Minutos

  • Divino, Maravilhoso

  • Os Machões

Diante de uma proposta já feita à companhia por uma produtora de um lugar alternativo, discutimos também as possibilidades e a viabilidade deste projeto, bem como a forma como poderíamos apresentá-lo para este público, colocando em questão principalmente a forma de fazer da arte não mero entretenimento, mas um convite à reflexão e consequente transformação.

sábado, 14 de fevereiro de 2009



"... uma arte consequente não pode dispensar a reflexão sobre seus fundamentos teóricos." [Iná Camargo Costa, em Atuação Crítica]

Depois de diversas reuniões enclausurados em um micro apartamento, eis que nossa última reunião foi feita num lugar bem mais amplo! Não, ainda não é a sede definitiva da companhia, mas eis que surge um namoro para um possível lugar. Lá em tão-tão distante... porém, bem mais verdejante! (Confira as fotos no link do Picasa à direita).

Com a novidade do lugar e também devido à distância (e, claro, termos nos perdido no caminho), acabamos tendo um atraso no início da reunião. Com o tempo já reduzido, optamos por não lermos os textos propostos na última reunião, como exposto na última postagem.

Colocamos em pauta a questão da otimização do nosso tempo. Conciliar o horário de sete pessoas, envolvidas em atividades diversas, é sempre por demais complicado. Mas também é deveras complicado termos apenas uma reunião semanal, uma vez que temos já algumas frentes de trabalho e pesquisa e projetos a serem desenvolvidos.

Como resolver tais questões? Chegamos à conclusão que o ideal é nos dividirmos em pequenas frentes de produção, que poderão se encontrar em horários compatíveis entre si. Cada frente estará encarregada de algum trabalho pré determinado na reunião anterior, com a Engrenagem completa. Mantemos o encontro semanal de todos, onde cada grupo passará aos outros o que foi desenvolvido durante a semana.

O encontro no CCBB dias 04 e 05/02 com a Cia do Latão foi muito importante para a Engrenagem. Assistimos, na quarta-feira, o experimento videocênico Entre o céu e a Terra. Experimento este baseado no conto A Cartomante, de Machado de Assis. Nesse mesmo dia, houve o lançamento do material pedagógico do projeto Companhia do Latão 10 anos:
  • Companhia do Latão 7 peças
  • Introdução ao Teatro Dialético
  • Atuação Crítica
Os livros Introdução ao Teatro Dialético e Atuação Crítica foram distribuídos gratuitamente. Importante material para a Engrenagem!

O Atuação Crítica contém entrevistas da Vintém, revista que é uma produção de caráter crítico que acompanha o desenvolvimento da pesquisa cênica da companhia.

Já o Introdução ao Teatro Dialético contém experimentos da Companhia do Latão. Segundo Iná Camargo Costa, a investigação cênica e literária desenvolvida pela Companhia do Latão é determinada por uma reflexão dialética aliada a um trabalho baseado na produção coletiva da dramaturgia. Desde sua origem, em 1997, o grupo trata de aspectos essenciais da nossa sociabilidade e da nossa herança cultural, com destaque evidente para o teatro, abordando as formas de dominação e exploração do país e do trabalho.

Já na quinta-feira, dia 05/02, houve a demonstração de trabalho com projeção do vídeo Brecht na Companhia do Latão, seguido de debate com a companhia e seu diretor, Sérgio de Carvalho. Esse debate foi bastante informal, mas muito informativo e rico no tocante ao compartilhamento das experiências e desenvolvimento, tanto cênica quanto grupal, do Latão. Discussões sobre o trabalho, capitalismo, Marxismo, Brecht e sua influência na companhia e sua dialética, produção teatral, processos e pesquisas.

Fica a grande pergunta, feita por Sérgio de Carvalho: Como fazer um teatro crítico, sem ser didático nem enfadonho, como criticar a sociedade capitalista sem ser sentimentalóide?

Eles têm conseguido.

Confira: http://www.companhiadolatao.com.br/

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

2009, o ano de MOVER A ENGRENAGEM!!!

"Desconfiai do mais trivial , na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer
impossível de mudar." B.Brecht, in Nada é impossível de Mudar

Finalmente, passadas as festas de final/início do ano e férias, nos reunimos na última sexta-feira para a primeira reunião de 2009.

Conversas diversas e diversificadas, a celebração do reencontro e a certeza do desejo conjunto de seguirmos adiante, da continuidade da nossa pesquisa sobre as ditaduras, da nossa investigação artística e possíveis ações e formas para mover nossa Engrenagem.

Já na primeira reunião, foram apresentados diversos pequenos textos para possíveis montagens, todos de uma das peças da Engrenagem, Rodrigo Abrahão. Textos esses que serão lidos na próxima reunião, 07/02, a fim de selecionarmos e direcionarmos nossos trabalhos. Também idéias sobre projetos de ocupação cultural e direcionamentos à pesquisa quem vem sendo realizada, culminando em uma montagem-cênica-performática, inserindo nesta todas as artes: poesia, dramaturgia, teatro, música, dança, artes plásticas...

Enfim, como disse o poeta Bertold Brecht, no poema acima, "Nada é impossível de mudar"!!!!!

Em tempo: atividade imperdível para todas as peças da Engrenagem e para todos: