sexta-feira, 13 de março de 2009

BERTOLD BRECHT

Elogio da Dialética
A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro.
Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais".
[B.Brecht]


A Engrenagem segue na sua proposta de estudo e pesquisas e, no momento, estamos mergulhados no mundo brechtiniano.

Bertold Brecht, um dos nossos esenciais, é um dos escritores fundamentais por ter revolucionado teórica e praticamente a dramaturgia e o espetáculo teatral, alterando de forma irreversível a função e o sentido social do teatro, utilizando a arte, concebida como resultado de um processo de criação coletiva, como um arma de conscientização e politização.
O pensamento de Brecht nunca é dogmático. Qualquer juízo crítico sobre sua obra é sempre relativo. Ele reescreveu tudo até morrer, nunca considerando um trabalho como acabado, nada como definitivo.Seu pensamento foi sempre ágil, resultado de contradições e contraditório também, experimental, circunstancial e sempre profundamente dialético. Tem como fundamento de sua criação seu pensamento político.
Toda a obra de Brecht virá a ser a luta contra o capitalismo e contra o imperialismo. A reflexão sobre a situação do homem num mundo dividio em classes. Filho de um industrial, nascido para ocupar seu lugar na produção ao lado dos patrões, Brecth não fabricará papel mas, sim, palavras para preencher papéis. Palavras que serão armas contra sua própia classe, tendo optado pelo lado dos operários, tornando-se o mais expressivo poeta revolucionário deste século.
Para Eric Bentley, Brecht é a corporização do espírito de oposição, resistência e contradição, levado ao extremo da contrariedade, do pensamento combativo. Sua vida repousa na alegria da luta, no deleite da oposição. E isto o transforma no intelectual marxista da sociedade capitalista: existe dentro dela para dinamitá-la!
Muito ainda temos que mostrar e falar sobre Bertold Brecht e, principalmente, seu importante Teatro Épico. Aguardem as próximas postagens! Por agora, deixamos essa pequena introdução e, mais ainda, o instigante texto que segue abaixo, que nos faz pensar em nosso papel enquanto artista, nossa capacidade e postura criativa e artística perante as engrenagens do mundo das artes e até que ponto podemos [ou não] nos tornarmos mercadoria dentro do esquema capitalista da sociedade.

"Brecht desenvolve de forma mais ampla sua concepção de arte no mundo capitalista. Afirma que há muito tempo as grandes engrenagens do teatro, da ópera ou do jornalismo orientam e decidem tudo a respeito das criações artísticas. Os intelectuais e artistas são ingênuos que ainda mantêm a ilusão de que todo o comércio da engrenagem pretende a valorização de seus trabalhos, quando acontece o contrário: convencidos de possuir o que realmente os possui, defendem uma engrenagem que não controlam mais; um aparelho que não existe mais, como acreditam, a serviço dos criadores, mas que, pelo contrário, voltou-se contra eles e portanto contra sua própria criação (na medida em que isto apresenta tendências específicas e novas, não conformes ou mesmo opostas à engrenagem). O trabalho dos criadores não é mais que um trabalho de fornecedores e assite-se ao nascimento de uma noção de valor cujo fundamento é a capacidade da exploração comercial. Assim, reforma-se a obra de arte para adaptá-la à engrenagem, nunca o contrário. E, acentua Brecht, a engrenagem é determinada pela ordem social: portanto só é bom o que contribui para a manutenção da ordem estabelecida. Uma inovação que não ameace a função social da engrenagem da burguesia decadente (esta função é ser um divertimento vesperal) pode ser acolhida, pois a sociedade absorve, por meio da engrenagem, apenas o que necessita para sua perpetuação. Portanto, só é permitida uma "inovação" capaz de levar uma renovação. Nunca a uma transformação da sociedade - seja ela boa ou má. Mas Brecht não faz esta denúncia apenas para situar a localização do artista e do intelectual dentro do esquema social. Afirma mesmo que a liberdade de criação limitada é um fato progressista, o indivíduo encontra-se cada vez mais implicado nos acontecimentos que transformam o mundo, não pode apenas se exprimir, é solicitado a resolver problemas de ordem geral e é colocado em condições de fazê-lo. Mas o vício, afirma, reside no fato das engrenagens não pertenceram à comunidade: os meios de produção não são ainda a propriedade daqueles que produzem, de modo que o trabalho tem a característica de uma verdadeira mercadoria, submetida às leis do mercado."
[Fonte: PEIXOTO, Fernando: Brecht - vida e obra]


Ah! E não deixem de conferir no final da página a barra de vídeos selecionados sobre Brecht, seus poemas e obra!!!!!

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