Hoje eu poderia escrever LUTO aqui. Mas prefiro escrever AMOR.
Acho que isso resume bem uma pessoa que sempre terminava seus emails nos desejando “todo amor que houver nessa vida”, alguém que sempre soube amar e que amou muito, seja seus amigos, sua família, seu ofício, mas mais que tudo a arte e o teatro.
“Amar
Em todas as instâncias
de todas as formas e possibilidades
Re-amar, antiamar
Simplesmente amar!
Sem isso a vida não vale a pena!”
Essa foi a legenda que RoGer Garcia escreveu quando pedi para fotografá-lo para a exposição da Guta, de Transversal Do Tempo, onde o fotografado deveria escrever algo relacionado ao amor ou a falta de. Realmente, não esperava que ele escrevesse sobre “a falta de”. Ele amava demais. Mais que isso, acreditava no amor, em todo tipo de amor. Acreditava no bem e nas pessoas e talvez por isso tenha passado por poucas e boas pela vida, por acreditar demais. Mas também estou certa que justamente por isso ele sempre foi uma pessoa especial, rara e muito querida por todos!
Perdi hoje muito mais que um amigo. Perdi um irmão. Alguém que tive a felicidade de conhecer há vários anos, com quem muito aprendi e que, recentemente, se tornou um super parceiro. Mais que diretor convidado de Transversal do Tempo, ele se tornou uma peça essencial da Cia Engrenagem. E é difícil falar o quanto isso significou pra mim, pra nós. Me faltam palavras. Sei que foi grande, foi amor, foi eterno. Melhor: ainda é e sempre será.
Perdemos hoje um homem essencialmente da arte, apaixonadamente do teatro. Alguém que exercia seu papel com paixão e com muita seriedade. Que permitia momentos de gargalhadas, mas que sempre nos instigava, sempre nos fazia manter o foco quando sempre o perdíamos, que no meio de uma discussão acerca do texto ou do personagem lançava mão de uma pergunta que nos surpreendia e nos obrigava a mergulhar mais ainda dentro daquele trabalho. Que nos passava “deveres de casa” e os cobrava com afinco, mas que também nos afagava quando precisávamos. Que nos conduzia, mas quando contrariado lançava mão de um “me convença” e se permitia se convencer mesmo. Não era o dono da verdade, nem pretendia ser. Interessava-se mais pelo debate sincero, pelas descobertas, pelo crescimento juntos, pela parceria.
Essencialmente do bem. Generoso, amável, gentil, doce.
Das reuniões aqui em casa, regadas a muita coca-cola, guardo suas risadas, o carinho e o amor e cuidado com o trabalho, com a gente, com minha filha.
Da última vez que nos vimos, guardo seu sorriso, suas mãos nas minhas, sua fé nas pessoas e no bem, na nossa peça, na nossa companhia, na vida e no amor e nosso abraço sorridente no final.
Ainda parece brincadeira. Ainda parece que ele vai chegar aqui nos chamando de “Pestes” e vai dar aquela gargalhada gostosa e pedir mais um pouco de coca cola.
A tristeza que sinto agora é imensurável e indescritível. Vai ser difícil passar... Mas mesmo diante de toda tristeza, tenho a felicidade de saber que ele partiu num momento em que dizia estar muito feliz por estar cercado de pessoas do bem e que o amavam, ele sentia isso! Também por pensar que ele se foi num momento em que estava à frente de dois trabalhos artísticos, do qual muito se orgulhava: a produção (junto com a Cia Engrenagem) e direção da peçaTransversal Do Tempo e a produção da Banda Ensaio de Guerra.
A Cia Engrenagem perdeu uma grande peça, uma peça rara, a qual devemos muito e temos muito que agradecer!
Nós continuaremos aqui. Faremos de tudo para seguir adiante com esse e outros trabalhos que virão e ele sempre será uma de nossas peças essenciais. Faremos de tudo para que ele possa sentir orgulho de “seus meninos”, como ele nos chamava!
Amor, irmão, amor. Brilhe muito!
(Cristina Froment)
Nenhum comentário:
Postar um comentário