quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O PRIMEIRO DIA - XIX Festival de Esquetes Elbe de Holanda

"É preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. Os homens começam com medo, coitados. E terminam em fazer o que não presta quase sem querer. É medo. [...] Medo de muitas coisas. Do sofrimento. Da solidão. E, no fundo de tudo, medo da morte." [O AUTO DA COMPADECIDA – ARIANO SUASSUNA]





Notícia das melhores: mal saiu da Mola e a Engrenagem já tem agendada uma nova apresentação!


Isso mesmo! Fomos selecionados para o IX Festival de Esquetes Elbe de Holanda (veja mais informações no link), o mesmo que há exato um ano atrás foi responsável pela estreia da companhia e onde fomos indicados ao Prêmio Revelação, por Tudo Aquilo que Eu Esperava.


Iremos abrir o festival, dia 07/11, às 20hs, com o esquete O Primeiro Dia, do qual já falamos aqui há um tempo atrás.


Dentro do processo de pesquisa e criação da Companhia Engrenagem de Arte Revolucionária, em determinado momento, nos deparamos com o álbum Transversal do Tempo Ao Vivo, da cantora Elis Regina. Lançado em 1978, a temática do espetáculo permanece atual. As músicas falam de desencontros, injustiças, (des)amores, degradação ambiental, política, solidão, medo, entre outras coisas. Elis Regina definia o show como jornalístico. Nós percebemos que havia um material especialíssimo. Naquele show e naquelas músicas encontravam-se os temas que queríamos, há muito, abordar.

Mas como a Cia. colocaria isso na prática?

Optamos por trabalhar a intertextualidade das canções. As entrelinhas. O sentimento macro embutido na letra. É importante ressaltar que as músicas em momento algum serão executadas durante a cena. Elas apenas serviram de base para a construção de um personagem.

Foi realizada uma pesquisa literária e cinematográfica. A Cia. Engrenagem foi atrás de obras da literatura mundial e do cinema nacional, cujo texto e discurso, entrassem em concomitância com as músicas do disco de Elis Regina. Entramos em contato com as obras de Lucia Murat, Bertold Brecht, Eduardo Galeano, Maria Adelaide Amaral, e, entre outros, Mia Couto, Walter Salles e Daniela Thomas.


Um dos sentimentos e temas que a Cia. quis trazer à tona é o medo. Nos dias de hoje, as pessoas têm medo de tudo. Estão reféns de várias coisas. Violência, opressão. Claustrofobia. A falta de folhas, de escolhas, de ar. E o filme O Primeiro Dia, de Walter Salles e Daniela Thomas, aborda esse tema.

O primeiro passo foi a adaptação. O roteiro do esquete passou por diversos tratamentos, onde cada personagem foi construído através ou da intertextualidade de uma música, ou através de referências literárias – no caso específico desse esquete, o autor moçambicano Mia Couto.

Ainda no campo da pesquisa, ao nos decidirmos por O Primeiro Dia, a cena já se delineava: uma cidade em meio ao fim do milênio. Inseridos nela, três personagens distintos, mas com destinos cortados pelo mesmo sentimento: medo. Investimos, então, na busca desses personagens. Quem são? Qual sua relação com a vida? Com o lugar? Com os outros? Qual o grito preso na garganta de cada um? Nos deparamos, então, com a seguinte frase da cineasta Lucrécia Martel:
"acho que a gente não precisa saber tudo do personagem. de onde vem, pra onde vai. podemos trabalhar com mistérios. eu vivo há cinco anos com uma pessoa e não sei tudo dela. e nem vou saber. é bom preservar os mistérios".

E é nesse mistério que se baseia a encenação de O primeiro dia. A encenação é feita através do jogo com espelhos, criando um clima de tensão e, ao mesmo tempo, libertação dos personagens. Uma flor é a metáfora de uma arma de fogo e a morte se dá ao recebê-la e se desvencilhar de uma peça de figurino, que cai, ao lado do personagem, que se liberta. Os atores são vestidos de acordo com os humores e opressões daqueles que representam com intensidade: João, Chico e Maria.

Um trabalho intenso, visceral.


Esperamos vocês nesse primeiro dia!

BALANÇO DA MOLA - 2009

Circo Voador lotado, inúmeras manifestações artísticas, arte por todos os cantos! Quatro dias muito intensos.

No sábado, o público lotou a tenda verde onde foi a apresentação e a Engrenagem novamente fez bonito!

Foi emocionante ver a plateia interagindo com a cena. Pessoas que paravam à porta da tenda para dar uma espiada e logo eram pegas por Plínio e Nelson em cena, fazendo-os ficar ali, procurar um cantinho em meio às almofadas e colchonetes, ou até ficando em pé mesmo, mas com largos sorrisos nos rostos e palmas entusiasmadas ao final.

Valeu Juliana Sansana e Curadoria de Cênicas da MOLA!
Valeu, Mola!
Valeu, Circo Voador!
Valeu, galera!